Os caminhões produzidos pela Fábrica Nacional de Motores (FNM),
depois transformada em Alfa-Romeo e, finalmente,
em Fiat Caminhões, foram sinônimos de força e robustez
no transporte rodoviário do Brasil durante décadas
Mesmo produzido pela Fiat, a carroceria era a mesma utilizada pelos FNM do início dos anos 70 |
O FNM (ou fenemê, como sempre foi chamado) foi o caminhão que marcou o início da grande indústria mecânica do país. Tinha mecânica simples e oferecia pouco conforto para o motorista, mas, em compensação, era robusto, não refugava cargas muito pesadas e encarava qualquer subida ainda que lentamente. Já para descer... o melhor era sair da frente. Mesmo os modelos equipados com o famoso "superfreio", mais modernos, eram perigosos ladeira-abaixo devido à usual sobrecarga.
Para ilustrar esta reportagem, encontramos um modelo que, mesmo sem ser dos pioneiros (esses já teriam hoje quase 60 anos, veja texto abaixo), é uma verdadeira relíquia: trata-se de um Fiat 180 ano 1979, trucado de fábrica, com direção hidráulica, superfreio e carroceria graneleira, adquirido zero-quilômetro na Marajó Caminhões, de Londrina (PR), por Chaud Kauan, 64 anos, pioneiro da cidade, que nunca mais se desfez dele. O caminhão só rodou até hoje 90 mil km; está "novo".
O cubo da roda mantém a marca da Fábrica Nacional de Motores | |
Eletrônica embarcada da época: alguns relés e mostradores essenciais. Abaixo, Elias Kauan posa, orgulhoso,com o "Azulão" | |
Quem nos apresenta o "Azulão", como é chamado na família, é Elias Kauan Neto, 27 anos, filho de Chaud, que tem praticamente a mesma idade do fenemê e é apaixonado por ele. Segundo Elias, o caminhão foi comprado para ser usado na fazenda do pai no transporte de cereais e fertilizantes. Quer dizer, só trabalha durante a safra; o resto do ano, fica descansando num barracão fechado e seu motor ronrona uma ou duas vezes por mês "para carregar a bateria e virar o óleo do motor". A bateria, por sinal, ainda tem a carcaça original de fábrica foram trocadas apenas as placas internas.
A cabine abriga uma cama e todo o calor gerado pelo motor Alfa-Romeo de 180 hp (para matar a saudade, ouça o seu "ronco" |
Além do valor sentimental que a família lhe dá, o 180 tem outras vantagens: "Representa um empate de capital relativamente pequeno pelo trabalho que realiza e dá muito pouca manutenção", afirma Elias, que rejeita a idéia de vender o caminhão, qualquer que seja a oferta. Orgulhoso, ele exibe outras preciosidades do fenemê, como o estepe original, o estofamento impecável e um motor de onde não vaza nenhuma gota de óleo. O veículo ainda possui a cópia da chave original e o manual com todas as revisões anotadas.
João Batista Sales, apelidado de Sarney por causa do bigode, é o motorista do bruto há muitos anos e também tem um cuidado todo especial com o fenemê. Faz as trocas "cruzadas" do câmbio sem deixar raspar as engrenagens e aproveita a potência gerada pelo motorzão de 6 cilindros sem forçar os componentes mecânicos.
Diesel nas Veias
Na álbum da família do repórter Jackson Liasch, aparece este FNM pertencente ao avô dele, Eduardo Carmona, e que era dirigido pelo tio José Carmona (Zeca), ambos já falecidos. O ano é, provavelmente, 1958, em Mandaguari (PR).
Este anúncio (ou "reclame", como se dizia na época), publicado na revista Mecânica Popular, em novembro de 1960, destaca a surpreendente capacidade de carga do bom e velho fenemê.
De Xerém para o Brasil
A Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi inaugurada em 13 de junho de 1942, em Xerém, município de Duque de Caxias (RJ). Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os motores aeronáuticos Wright-Ciclone de 450 cv, fabricados pela FNM, ficaram sem utilidade e a capacidade da empresa precisava ser aproveitada.
Em 1947, a FNM transformou-se em sociedade anônima, e o governo federal, dono de parte das ações, firmou contrato com a fábrica italiana Isotta Fraschini para a produção do primeiro caminhão brasileiro: o FNM D-7300, com motor de 130 cv movido a diesel, apresentado em 1949. Com a falência da Isotta Fraschini, a FNM associou-se à Alfa-Romeo e, em 1951, era lançado um veículo mais potente, denominado D-9500.
Como o modelo teve grande aceitação, a produção aumentou e, no final dos anos 50, surgiu o D-11000, substituído pelo FNM 180 no começo dos anos 70, já com a denominação de Alfa-Romeo, e, depois, de Fiat 180, quando a Alfa foi absorvida pela Fiat.
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